segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Adeus Lund. Obrigado.

Já lá vai um tempo! Mais propriamente 13 meses desde que prometi ao Joel, o grande artista e criador da capa da minha tese que foi gabada e invejada por terras nórdicas, um texto que relatasse Lund (não muito pelas palavras, mas por fotografias).
PhD thesis
PhD Thesis: Cover By Joel
Desde já um grande pedido de desculpas por tal atraso. Além do excesso de trabalho e falta de tempo/paciência e capacidade mental para tal, tive outros motivos. Muito provavelmente maior de todos: Não queria entrar no erro de comparar Lund a Copenhaga! Era injusto em todos os aspectos. Primeiro porque me encontrava na fase de desprezo e cansaço sobre Lund, após estes longos e por vezes penosos 5 anos de intenso trabalho e estudo. Depois porque me encontrava a viver finalmente numa das cidades mais bonitas que tive oportunidade de conhecer, em que qualquer canto algo me faz sorrir e algo novo e único e acontece. 
E claro, havia que passar as três fases da nova aventura pela capital dinamarquesa para evitar a má reflexão sobre Lund: 1-A excitação sobre a nova grande cidade; 2- O desprezo e revolta porque a cidade não é assim tão melhor, e que afinal os amigos deixados para trás é que faziam a  diferença; 3- O equilíbrio de quem já realmente está ambientado a uma nova aventura.
Mas sobre Copenhaga lá voltarei, no futuro, e espero que não seja tão demorado como este texto.

Parque onde corria, quase
todas as manhas, com a Zola.
Janian, Rafael, Natal e Salomé.
Lund! Oh Lund! Que saudades já sinto daquele sentimento claustrofóbico de quem não sabe o que o futuro lhe reserva. 
Zé, Nuxa e Salomé
Lund é uma cidade universitária por natureza. Uma universidade fundada em 1666, das mais velhas da Europa e mundo, das mais ligadas à investigação cientifica, e uma das universidades que mais gera formação de empresas e novos projectos.
Em 2009, quando parti para a Suécia, pouco sabia aquilo que me ia acontecer. Foi das aventuras que por mais que programadas, resultam sempre ao contrário. Iria custar como qualquer outra, mas seria sempre uma grande surpresa. 
Mariano e Ângela.
Quando cheguei, e iludido que Lund seria uma curta passagem de apenas um ano, máximo dois, a excitação era imensa. Primeiro por ter sido recebido por um conjunto maravilhoso de pessoas, alguns dos quais portugueses, dos quais se tornaram dos meus melhores amigos, embora hoje em dia seja obrigado, infelizmente, a conviver com a distância. 
Sandra, Jorge, Severine.
Lund não era só trabalho, mas também não era a boa vida constante que muitos possam imaginar. Havia imenso convívio, principalmente entre os internacionais, e contanto que em 40,000 estudantes, cerca de 10,000 são internacionais, leva a um grande ambiente académico e uma socialização fora do normal. Talvez seja daquelas coisas que serão difíceis de descrever em palavras, mas quando nos encontramos a 3000 km de casa, longe dos amigos de longa data e família, a tendência é socializar o mais possível, procurando preencher os buracos que a solidão e distancia tendem a forma.
Em Lund há um sentimento de união, que gere de certa forma um sentimento de família. De certa forma, todos nós estamos na mesma situação, todos nós procuramos o mesmo: Diversão, bons momentos e apoio nos momentos necessários. 
Há muito a viver para poder descrever, mas a verdadeira intensidade da universidade de Lund, e de qualquer universidade nórdica, é tudo menos a competição, a crítica e a necessidade de desvalorização do próximo como acontece em Portugal (e logo eu que conheço tanto atraso de vida...). 
Lund, ou qualquer cidade na Skåne, sul da Suécia, é uma cidade pacata! Tirando as noites de fim de semana, ou as festas universitárias em que o povo sai a rua, tudo é muito sereno, limpo e calmo. Não é um paraíso, também tem as suas lacunas, mas de certa forma a mais proveitosa das lições que tirei durante estes anos, foi a nível social.
JD, Bruno, Tobi, Jaha, Janina
A crítica ignorante, sem qualquer fundamento de base, as constantes lavagens cerebrais políticas através de jornalismos manhosos, os corruptos e miseráveis mensageiros dos bancos e afins ficaram, finalmente em Portugal, e a vantagem de ver as coisas de fora, bem de longe, leva a uma maior lucidez de ideias. Isto juntamente com a forma mais nórdica de pensar (acreditar mais no próximo, não criticar sem razão e principalmente não invejar ninguém) levam a uma total renovação de visões e conceitos sobre uma sociedade liberal, justa e responsável.
Do que mais consigo comparar com Portugal e Suécia é a sua comparação sobre direitos e deveres. Os países nórdicos incutiram na sua educação durante anos que deveres sociais estão sempre primeiro, e os seus direitos virão por acréscimo. Em Portugal é bem oposto: os direitos são nossos e, se me fizerem tudo que quero, mesmo que não saiba bem o que quero mas o meu sindicato diz que sim, talvez possa ajudar e fazer alguns dos meus deveres... mas não todos porque à noite joga o benfica.
Pode parecer estranho, mas o facto deste tipo de mentalidade me fazer sentir melhor, fez com que não quisesse e continue a não querer voltar ao meu próprio país. É triste, mas é a principal razão.
Max, Joana e a Special one.

Lund é uma cidade pequena, e isto torna-a claustrofóbica. Passado dois meses de lá estar, ficou mais ou menos delineado que iria lá ficar todo o meu doutoramento. Havia a sensação que a nível de carreira não podia ser melhor! Não voltaria a Portugal para trabalhar com pessoas que não gostava e muito mais que isso, estaria num centro de investigação muito melhor com mais chances de publicações e saídas futuras. Mas o que mais custava era deixar quem nós tanto queremos ao nosso lado todos os dias, e que tornou principalmente o primeiro ano tão penoso: Amigos e a special one. O aperto no peito passou de momentâneo a constante e as saudades apertavam a cada segundo de distancia. Nesses momentos a vontade de largar tudo era constante. Era seguro pelos meus pensamentos de teimosia em não desistir de nada. E fui ficando, fui tendo o apoio, carinho e amizade de todos os que me rodeavam, e as coisas foram acalmando. No final tudo correu pelo melhor, e hoje sei que fiz todas as decisões certas possíveis.
Eu, Tiago, Sara, Ana e Zola @ Ystad - Sweden.

Bjarred, Sauna center. Miguel eSara.
Lund acabou por se tornar uma casa que, com o tempo, leva a uma certa impaciência por mudança. Perceberam? Digamos que pouco mais de um ano após a chegada, já conhecia a cidade demasiado bem, já conhecia o sul sueco até certa forma e tudo se tornava um grande aborrecimento. Depois, por ser uma cidade universitária, entra-se numa onda onde toda a pessoa nova que se conhece irá partir entretanto, e sendo eu um dos que iria acabar por ficar, já não tinha paciência para conhecer mais pessoas por curtos meses, por mais interessantes que essas pessoas pudessem ser. 
Esta fatiga foi a principal razão pelo qual este texto levou tanto a ser escrito. Não queria falar sobre uma cidade, região e país que tanto me deu e do qual eu tanto tenho saudade, numa altura em que esta fadiga ainda se apoderava de mim.
No final desta minha aventura só tenho um sentimento de saudade. Lund apoderou-se de mim. Não seria a mesma coisa voltar porque toda esta aventura foi fantástica porque existiram pessoas fantásticas à minha volta. Desde o primeiro dia, da primeira pessoa que vi até ao dia da minha despedida, do meu Doutoramento. Lund foi a experiência da minha vida, foi a grande montanha que escalei a nível profissional e principalmente pessoal. Hoje sinto-me diferente, melhor pessoa e mais capaz de sobreviver a tudo. 
Só gostaria de, hoje em dia, ainda poder estar com todas estas pessoas fantásticas que partilharam estes meus últimos 5 anos.


Obrigado Lund.

Landskrona park.

Small city in Landskrona

Small city in Landskrona

Landskrona

Nimis, Wood city

Chemical Center, Snow day.

Lund

Lund Hostel

Lund

Special one in Lund. 
Catedral de Lund

Jardim Botânico de Lund

Malmö

Lomma, Skåne

Lund