segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Um crónico vazio.

Como drogado. Constantemente. Tal como um toxicómano.
Necessidade de voltar a ter aquela primeira vez, aquela primeira viagem fora do corpo.
Um assassino em série que nunca consegue sentir o mesmo prazer da primeira vez.
Sofremos em busca da felicidade constantemente, por mais que ela exista, esteja presente, mas não a vejamos. Levamos tudo isso ao limite.
A necessidade de voltar a sentir aquilo mesmo, e tudo o resto vivido é e será sempre vazio. Há sempre algo que falta. Algo abandonado. Algo por preencher.
O ser humano, o tal que leva a vida a pensar em ser feliz, mesmo que não se aperceba o quanto já é!
Há dentro de nós algo, pesado e estranho, que nunca nos deixa livres o suficiente para desfrutar o que de bom temos. Que nos leva constantemente a procurar mais e melhor, embora sempre sem sucesso.
Um dia fomos felizes. Eu fui. Não me lembro. Provavelmente a primeira vez que vi a minha mãe e a liguei à voz dos primeiros dias de vida. Ou o meu primeiro gelado, a primeira vez que vi alguém a celebrar um golo a frente da televisão sem saber o que era. Algo desse género levou-me a fazer o meu percurso até hoje. Ainda hoje procuro essa felicidade. E esqueci-me de viver a que tinha e vou tendo.
Sou um drogado, um assassino. Sou um descobridor. Busco esse exacto momento.
Longa será a caminhada. Até lá será sempre vazio. O vazio.

JJ

And the things that keep us apart keep me alive

domingo, 2 de agosto de 2015

Explicação da Eternidade

Explicação da Eternidade

Devagar, o tempo transforma tudo em tempo. 
o ódio transforma-se em tempo, o amor 
transforma-se em tempo, a dor transforma-se 
em tempo. 


os assuntos que julgámos mais profundos, 
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis, 
transformam-se devagar em tempo. 

por si só, o tempo não é nada. 
a idade de nada é nada. 
a eternidade não existe. 
no entanto, a eternidade existe. 

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos. 
os instantes do teu sorriso eram eternos. 
os instantes do teu corpo de luz eram eternos. 

foste eterna até ao fim. 

José Luís Peixoto, in "A Casa, A Escuridão" 
Devagar, o tempo transforma tudo em tempo. 
o ódio transforma-se em tempo, o amor 
transforma-se em tempo
, a dor transforma-se 
em tempo. 

Não acredito que o amor se transforme...